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Seção 1 Continuidade e Propriedades das Funções Contínuas

Subseção 1.1 Continuidade

Vimos que calcular os limites de algumas funções — polinômios e funções racionais — é muito fácil porque

\begin{align*} \lim_{x \to a} f(x) \amp= f(a). \end{align*}

Ou seja, o limite quando \(x\) se aproxima de \(a\) é apenas \(f(a)\text{.}\) Sem entrar em detalhes, podemos calcular o limite dessa maneira já que essas funções não têm saltos abruptos perto de \(a\text{.}\)

Muitas outras funções têm esta propriedade, \(\sin(x)\) por exemplo. Uma função com esta propriedade é chamada contínua e existe uma definição matemática precisa para ela.

Definição 1.1.

Uma função \(f(x)\) é contínua em \(a\) se

\begin{align*} \lim_{x \to a} f(x) \amp= f(a). \end{align*}

Se uma função não é contínua em \(a\) então dizemos que ela é descontínua em \(a\text{.}\) Quando \(f\) é contínua em todos os pontos dizemos simplesmente que \(f\) é contínua, sem especificar o ponto. Quando escrevemos que \(f(x)\) é contínua no intervalo aberto \((a,b)\) então a função é contínua em todo ponto \(c \in (a,b)\text{.}\)

Consequências da continuidade.

Quando uma função \(f\) é contínua em \(x=a\text{,}\) sabemos imediatamente que

  1. \(f(a)\) existe

  2. \(\displaystyle \lim_{x \to a^-}f(x)\) existe e é igual a \(f(a)\text{,}\) e

  3. \(\displaystyle \lim_{x \to a^+}f(x)\) existe e é igual a \(f(a)\text{.}\)

Investigue a continuidade de \(f(x)= x^2+3x-5\text{.}\)

Solução.

Lembre que o domínio de uma função polinomial são todos os números reais. Agora observe que para todo \(a\in \mathbb{R}\text{:}\)

\begin{align*} \lim\limits_{x\to a} f(x) \amp =\lim\limits_{x\to a} (x^2+3x-5) \\ \amp = a^2 +3a-5 = f(a) \quad \ct{direto das propriedades de limites} \end{align*}

Portanto, pela Definição 1.1 \(f(x)\) é continua em todos os pontos.

Investigue a continuidade de \(f(x)=x^3-2x\text{.}\)

Resposta.

Contínua em todos os pontos já que satisfaz \(\lim\limits_{x\to a}f(x)=f(a)\text{.}\)

Investigue a continuidade da função racional \(f(x)=\dfrac{x^2-1}{x-1)}\text{.}\)

Solução.

O domínio de \(f(x)\) consiste em todos os números reais exceto \(x=1\text{.}\) Logo, para \(a\neq 1\) temos:

\begin{align*} \lim\limits_{x\to a} f(x) \amp =\lim\limits_{x\to a} \dfrac{x^2-1}{x-1)} \\ \amp =\frac{a^2-1}{a-1}= f(a) \quad \ct{direto das propriedades de limites} \end{align*}

Note que \(a-1\) nunca será zero uma vez que \(a=1\) não pertence ao domínio de \(f(x)\text{.}\) Portanto, pela Definição 1.1 \(f(x)\) é continua nos intervalos abertos \((-\infty, 1)\) e \((1, +\infty)\text{.}\)

Investigue a continuidade de \(f(x)=\dfrac{2}{x^2+2}\text{.}\)

Resposta.

A função é contínuo em todos os pontos. Ou seja, em \((-\infty, +\infty)\text{.}\)

Subseção 1.2 Continuidade laterais

Observe que na Definição 1.1 evitamos dizer qualquer coisa sobre se a função é ou não contínua nas extremidades do intervalo, ou seja é \(f(x)\) contínuo em \(x=a\) ou \(x=b\text{.}\) Isso porque falar de continuidade nas extremidades de um intervalo pode ser um pouco delicada.

Em muitas situações nos será dada uma função \(f(x)\) definida em um intervalo fechado \([a,b]\text{.}\) Por exemplo, podemos ter:

\begin{align*} f(x) \amp= \frac{x+1}{x+2} \amp \text{para } x \in [0,1]. \end{align*}

Para qualquer \(0 \leq x \leq 1\) sabemos o valor de \(f(x)\text{.}\) Entretanto, para \(x \lt 0\) ou \(x \gt 1\) não sabemos nada sobre a função — na verdade ela não foi definida.

Agora, considere o que significa \(f(x)\) ser contínuo em \(x=0\text{.}\) Precisamos ter

\begin{align*} \lim_{x\to 0} f(x) \amp= f(0), \end{align*}

no entanto, isso implica que os limites laterais

\begin{align*} \lim_{x\to 0^+} f(x) \amp= f(0) \amp \text{e}\amp\amp \lim_{x\to 0^-} f(x) \amp= f (0) \end{align*}

Agora, o primeiro desses limites laterais envolve examinar o comportamento de \(f(x)\) para \(x \gt 0\text{.}\) Como isso envolve olhar para os pontos para os quais \(f(x)\) está definido, isso é algo que podemos fazer. Por outro lado, o segundo limite lateral exige que entendamos o comportamento de \(f(x)\) para \(x \lt 0\text{.}\) Isso não podemos fazer porque a função não foi definida para \(x \lt 0\text{.}\)

Uma maneira de contornar esse problema é generalizar a ideia de continuidade para continuidade lateral, da mesma forma que fizemos para obter limites laterais.

Definição 1.6.

Uma função \(f(x)\) é contínua à direita em \(a\) se

\begin{align*} \lim_{x\to a^+} f(x) \amp= f(a). \end{align*}

Analogamente, \(f(x)\) é contínua à esquerda em \(a\) se

\begin{align*} \lim_{x\to a^-} f(x) \amp= f(a) \end{align*}

Usando a definição de continuidade lateral, podemos agora definir o que significa uma função ser contínua em um intervalo fechado.

Definição 1.7.

Uma função \(f(x)\) é contínua em um intervalo fechado \([a,b]\) quando

  1. \(f(x)\) é contínua em \((a,b)\text{,}\)

  2. \(f(x)\)é contínua à direita em \(a\text{,}\) e

  3. \(f(x)\) é contínua à esquerda em \(b\text{.}\)

No que as condições apresentadas na Definição 1.7 são equivalentes a:

\begin{align*} \lim_{x\to a^+} f(x) \amp= f(a) \amp \text{e }\amp\amp \lim_{x\to b^-} f(x) \amp= f(b). \end{align*}

Investigue a continuidade de \(f(x)=\sqrt{3-x}\text{.}\)

Solução.

Observe que \(f(x)\) está definida para todos os valores de \(x\) menores que \(3\text{.}\) Além disso,

\begin{align*} \lim\limits_{x\to 3^-} f(x)\amp = \lim_{x\to 3^-}\sqrt{3-x} \\ \amp = 0= f(3) \end{align*}

Logo, \(f(x)\) é contínua à esquerda em \(x=3\text{.}\) Observe também que para \(x\lt 3\) a função \(f\) satisfaz a Definição 1.1. Portanto, a função \(f(x)\) é contínua no intervalo \((-\infty, 3]\text{.}\)

Investigue a continuidade de \(f(x)=\sqrt{x-2}\text{.}\)

Resposta.

Contínua no intervalo \([2, \infty]\text{.}\)

Investigue a continuidade de

\begin{align*} f(x) \amp= \begin{cases} 5-x\amp -1\leq x\leq 2 \\ x^2-1 \amp 2 \lt x\leq 3 \end{cases} \end{align*}
Solução.

De imediato podemos afirmar que as funções polinomiais são \(5-x\) e \(x^2-1\) são contínuas, em particular são contínuas no intervalos \([-1,2]\) e \((2, 3]\text{,}\) respectivamente. Portanto, para concluir que \(f(x)\) é contínua no seu domínio, isto é, no intervalo \([-1, 3]\text{,}\) é necessário investigar a continuidade em \(x=2\text{.}\) Das igualdade

\begin{align*} \lim\limits_{x\to 2^-} f(x)\amp = \lim_{x\to 2^-} (5-x)=3=f(2)\\ \lim\limits_{x\to 2^-} f(x)\amp = \lim_{x\to 2^-} (x^2-1)=3=f(2) \end{align*}

concluímos que

\begin{equation*} \lim\limits_{x\to 2^-} f(x)=3=f(2). \end{equation*}

Portanto, segue da Definição 1.1 que \(f\) é contínua em \(x=2\text{,}\) e como consequência da Definição 1.7, é contínua em todo o intervalo fechado \([-1,3]\text{.}\)

Investigue a continuidade de

\begin{align*} f(x) \amp= \begin{cases} x+2\amp -1\leq x\leq 3 \\ 14-x^2 \amp 3 \leq x\leq 5 \end{cases} \end{align*}
Resposta.

Contínua no intervalo fechado \([-1, 5]\text{.}\)

Subseção 1.3 Mais exemplos sobre continuidade

Estude a continuidade da função

\begin{align*} f(x) \amp= \begin{cases} x\amp x \lt 1 \\ x+2 \amp x\geq 1 \end{cases} \end{align*}

Figura 1.13.

Solução.

Quando \(x \lt 1\) então \(f(x)\) é uma reta (e, portanto, um polinômio) e; logo, é contínua em todos os pontos \(x \lt 1\text{.}\) Da mesma forma, quando \(x \gt 1\) a função é uma reta e, portanto, é contínua em todos os pontos \(x \gt 1\text{.}\) O único ponto que pode ser uma descontinuidade é em \(x=1\text{.}\) Note que os limites laterais são diferentes. Portanto, o limite em \(x=1\) não existe e, consequentemente, a função é descontínua em \(x=1\text{.}\)

Estude a continuidade da função

\begin{align*} g(x) \amp= \begin{cases} \tfrac{1}{x^2}\amp x\neq 0 \\ 0 \amp x=0\end{cases} \end{align*}

Figura 1.15.

Solução.

Observe que quando \(x \neq 0\) o \(g(x)\) é uma função racional e, portanto, é contínua em todos os pontos de seu domínio (que são todos os reais exceto \(x=0\)). Assim, o único ponto em que \(g(x)\) pode ser descontínuo é em \(x=0\text{.}\) Note que nenhum dos limites laterais existe em \(x=0\text{,}\) então o limite não existe em \(x=0\text{.}\) Portanto, a função é descontínua em \(x=0\text{.}\)

Estude a continuidade da função

\begin{align*} h(x) \amp= \begin{cases}\frac{x^3-x^2}{x-1} \amp x\neq 1 \\ 0 \amp x=1 \end{cases} \end{align*}

Figura 1.17.

Solução.

Esse caso é similar aos anteriores. Note que para \(x \neq 1\) \(h(x)\) é uma função racional, e portanto, contínua. Resta verificar o caso em \(x=1\text{.}\) Por definição de \(h(x)\text{,}\) \(h(1) = 0\text{.}\) Vamos calcular o limite quando \(x\to 1\) e depois verificar se está de acordo com a Definição 1.1. Para isso,

\begin{align*} \frac{x^3-x^2}{x-1} \amp= \frac{x^2(x-1)}{x-1} = x^2 \end{align*}

Então \(\displaystyle\lim_{x \to 1} \frac{x^3-x^2}{x-1} = \lim_{x \to 1} x^2 = 1\neq h(1)\text{.}\) Portanto, \(h\) é descontínua em \(x=1\text{.}\)

Os Exemplo 1.12–1.16 ilustram diferentes tipos de descontinuidade.

  • A função \(f(x)\) tem uma “descontinuidade de salto” porque a função “salta” de um valor finito à esquerda para outro valor à direita.

  • A função \(g(x)\text{,}\) tem o que chamamos de “descontinuidade infinita” uma vez que \(\displaystyle\lim\limits_{x\to 0} f(x) =+\infty\text{.}\)

  • A função \(h(x)\text{,}\) tem uma “descontinuidade removível” porque podemos tornar a função contínua nesse ponto redefinindo a função nesse ponto. Ou seja, definindo \(h(1)=1\text{.}\) Isto é,

    \begin{align*} h(x) \amp= \begin{cases} \frac{x^3-x^2}{x-1} \amp x\neq 1\\ 1 \amp x=1 \end{cases} \end{align*}

Mostrar que uma função é contínua pode ser trabalhoso, mas assim como as regras de limite nos ajudam a calcular limites complicados em termos de limites mais simples, podemos usá-las para mostrar que funções complicadas são contínuas dividindo-as em partes mais simples.

Subseção 1.4 Propriedades das funções contínuas

Acima afirmamos que polinômios e funções racionais são contínuas (tendo cuidado com domínios de funções racionais — devemos evitar que os denominadores sejam zero) nossos próximos passos tem a intenção de formalizar estas afirmações.

Agora, como podemos obter qualquer polinômio e qualquer função racional adicionando, subtraindo, multiplicando e dividindo cuidadosamente as funções \(f(x)=x\) e \(g(x)=c\text{,}\) o Lema 1.19 acima combinado com o Teorema 1.18 para nos dar o resultado que queremos:

Com um pouco mais de trabalho, esse resultado pode ser estendido para tipos mais amplos de funções:

Usando uma combinação dos resultados acima, você pode mostrar que muitas funções complicadas são contínuas, exceto em alguns pontos (geralmente onde o denominador é igual a zero).

Onde a função \(f(x) = \dfrac{\sin(x)}{2+\cos(x)}\) é contínua?

Solução.

A função é uma razão de duas partes — então a ideia geral é verificar se o numerador é contínuo, o denominador é contínuo e se o denominador pode ser zero. O numerador é \(\sin(x)\) que é “contínuo em seu domínio” de acordo com o Teorema 1.21 . Seu domínio são todos os números reais. O denominador é a soma de \(2\) e \(\cos(x)\text{.}\) Como \(2\) é uma constante, ela é contínua em todos os números reais. Da mesma forma (acabamos de verificar as coisas para o ponto anterior), sabemos que \(\cos(x)\) é contínuo em todos os reais. Portanto, o denominador é contínuo. Precisamos agora verificar se o denominado se anula. Para isso lembre que

\begin{gather*} -1 \leq \cos(x) \leq 1\\ \end{gather*}

quando somamos 2 em ambos os lados obtemos

\begin{gather*} 1 \leq 2+\cos(x) \leq 3 \end{gather*}

Portanto, não importa o valor de \(x\text{,}\) \(2+\cos(x) \geq 1\) e, portanto, o denominador não pode se anular. Então o numerador é contínuo, o denominador é contínuo e o denominador não se anula em nenhum ponto, então a função é contínua em todos os números reais.

Onde a função \(\displaystyle f(x)=\frac{\sin(x)}{x^2-5x+6}\) é contínua?

Solução.

De acordo com o Teorema 1.21 o numerador e o denominador de \(f\) são contínua funções contínuas. Uma vez que o denominador \(x^2-5x+6=(x-2)(x-3)\) se anula em \(x=2,3\text{.}\) Portanto, a função é contínua em todos os lugares, exceto possivelmente em \(x=2,3\text{.}\) Para verificar se a função realmente é descontínua nesses pontos, basta verificar se o numerador é diferente de zero em \(x=2,3\text{.}\) De fato, sabemos que \(\sin(x)\) é zero somente quando \(x = n\pi\) (para qualquer inteiro \(n\)). Portanto, \(\sin(2),\sin(3) \neq 0\text{.}\) Assim, o numerador é diferente de zero, enquanto o denominador é zero e, portanto, \(x=2,3\) realmente são pontos de descontinuidade.

Nota 1.24.

Observe que no Exemplo 1.23 levanta um ponto sutil sobre a verificação de continuidade quando o numerador e o denominador são simultaneamente zero. Existem alguns resultados possíveis neste caso e precisamos de ferramentas mais sofisticadas para analisar adequadamente o comportamento das funções próximas a esses pontos.

Explique por que a função \(f(x)=\dfrac{\sin{x}}{x+1}\) é contínua em todo seu domínio.

Resposta.

De acordo com Teorema 1.21 \(\sin{x}\) como \(x+1\) são contínuas. Segue do Teorema 1.18 o quociente destas expressões também é uma função contínua, já que onde o denominador se anula apenas em \(x=-1\text{,}\) mas que não pertence ao domínio de \(f(x)\text{.}\)

Outra forma de combinar as funções contínuas \(f\) e \(g\) para obter novas funções contínuas é formar a função composta \(f\circ g\text{.}\)

Em outras palavras, o Teorema 1.26 diz que: se \(g\) é contínua em \(a\) e \(f\) é contínua em \(g(a)\) então a função composta \((f \circ g)(x) = f(g(x))\) é contínua em \(a\text{.}\) Então, quando compomos duas funções contínuas, obtemos uma nova função contínua.

Indique onde as seguintes funções são contínuas.

(a)

\(f(x) = \sin\left( x^2 +\cos(x) \right)\)

Solução.

Nosso primeiro passo deve ser quebrar as funções em partes e estudá-las. Quando os juntarmos novamente, devemos tomar cuidado para não dividir por zero, ou cair fora do domínio. A função \(f(x)\) é a composição de \(\sin(x)\) com \(x^2+\cos(x)\text{.}\) Cada um desses termos, \(\sin(x), x^2\) e \(\cos(x)\) são funções contínuas. Portanto, a soma \(x^2+\cos(x)\) é contínua. E, portanto, a composição de \(\sin(x)\) e \(x^2+\cos(x)\) é contínua em todos os reais.

(b)

\(g(x) = \sqrt{\sin(x)}\)

Solução.

A função \(g(x)\) é a composição de \(\sqrt{x}\) com \(\sin(x)\text{.}\) Observe que \(\sqrt{x}\) é contínuo em seu domínio \(x \geq 0\) e que \(\sin(x)\) é contínua, mas é negativo em muitos lugares (ver Figura 1.28). Para que \(g(x)\) seja definido e contínuo, devemos restringir \(x\) para que \(\sin(x) \geq 0\text{.}\)

Figura 1.28.
Portanto, \(\sin(x)\geq 0\) quando \(x\in[0,\pi]\) ou \(x\in [2\pi,3\pi]\) ou \(x\in[-2\pi,-\pi]\) ou…. Para ser mais preciso, \(\sin(x)\) é positivo quando \(x \in [2n\pi,(2n+1)\pi]\) para qualquer inteiro \(n\text{.}\) Portanto, \(g(x)\) é contínua quando \(x \in [2 n\pi,(2n+1)\pi]\) para qualquer número inteiro \(n\) .

Subseção 1.5 Sugestão de Vídeos

Subseção 1.6 Localizando zeros de funções

Funções contínuas são muito boas (matematicamente falando). As funções do “mundo real” tendem a ser contínuas (embora nem sempre). O aspecto chave que os torna bons é o fato de que eles não “saltam”.

A ausência de tais saltos leva ao seguinte teorema que, embora possa ser bastante confuso à primeira vista, na verdade diz algo muito natural — até óbvio. Ele diz, a grosso modo, que, à medida que você desenha o gráfico \(y=f(x)\) começando em \(x=a\) e terminando em \(x=b\text{,}\) \(y\) muda continuamente de \(y=f(a)\) para \(y=f(b)\text{,}\) sem saltos e, consequentemente, \(y\) deve assumir todos os valores entre \(f(a)\) e \(f(b)\) pelo menos uma vez.

O Teorema 1.29 diz que se \(f(x)\) é uma função contínua em todo o intervalo \(a \leq x \leq b\) então como \(x\) se move de \(a\) a \(b\text{,}\) \(f(x)\) assume todos os valores entre \(f(a)\) e \(f (b)\) pelo menos uma vez. Em outras palavras, se \(f\) não alcançar um valor entre \(f(a)\) e \(f(b)\) então \(f\) não pode ser contínuo em \([a,b]\text{.}\)

Não é difícil se convencer de que a continuidade do \(f\) é crucial para o TVI 1.29 . Sem ele pode-se construir rapidamente exemplos de funções que contradizem o teorema. Veja a figura abaixo para alguns exemplos não contínuos:

No gráfico da esquerda, vemos que uma função descontínua pode “saltar” sobre o valor \(Y\) que escolhemos, então não há valor de \(x\) que implique em \(f(x)=Y\text{.}\) O gráfico da direita demonstra por que precisamos ter cuidado com as extremidades do intervalo. Em particular, uma função deve ser contínua em todo o intervalo \([a,b]\) incluindo os extremos do intervalo. Se apenas exigíssemos que a função fosse contínua em \((a,b)\) (tão estritamente entre \(a\) e \(b\)), então a função poderia “pular” sobre o valor \(Y\) em \(a\) ou \(b\text{.}\)

Mostre que existe uma raiz da equação

\begin{equation*} 4x^3-6x^2+3x-2=0 \end{equation*}

entre \(1\) e \(2\text{.}\)

Solução.

Seja \(f(x)=4x^3-6x^2+3x-2 \text{.}\) Para resolver o problema devemos encontrar um número \(c\) entre \(1\) e \(2\) tal que \(f(c)=0\text{.}\) Portanto, para se adequar ao TVI 1.29, vamos tomar \(a=1\) e \(b=2\) e \(d=0\text{.}\) Contudo,

\begin{equation*} f(1) =4-6+3-2=-1\lt 0 \end{equation*}

e

\begin{equation*} f(2)= 32-24+6-2=12\gt 0. \end{equation*}

Logo, \(f(1)\lt 0\lt f(2)\text{,}\) ou seja, \(d=0\) é um número entre \(f(1)\) e \(f(2)\text{,}\) como queríamos. Agora, já que \(f\) é contínua (pois é um polinômio), o Teorema do Valor Intermediário (TVI) afirma que existe um número \(c\) entre \(1\) e \(2\) tal \(f(c)=0\text{.}\) Ou seja, a equação \(4x^3-6x^2+3x-2=0\) tem pelo menos uma raiz \(c\) em \((1, 2)\text{.}\) A Figura 1.31 contribui com o resultado obtido.

Figura 1.31.

Mostre que existe uma raiz da equação \(x^4+x-3=0\) entre \(1\) e \(2\text{.}\)

Dica.

Faça \(f(x)=x^4+x-3\text{.}\) Verifique que \(f(1)\lt 0\lt f(2)\) e use o TVI 1.29.

Subseção 1.7 Sugestão de vídeos

Exercícios 1.8 Exercícios

1.

Abaixo estão seis afirmações sobre funções. Associe cada instrução a uma das funções mostradas abaixo que MELHOR corresponde a essa instrução.

2.

Encontre o valor da constante \(c\) que torna a função abaixo contínua em \((-\infty,\infty)\text{.}\)

\begin{equation*} f(y) = \begin{cases}\displaystyle{cy+6}\amp \text{se}\ y\in \left(-\infty ,5\right]\cr \displaystyle{cy^{2}-6}\amp \text{se}\ y\in \left(5,\infty \right)\end{cases} \end{equation*}

\(c=\)

Resposta.

\(0.6\)

3.

Mostre que

\begin{equation*} f(x) = \begin{cases}\displaystyle{4x-1}\amp \text{se}\ x \lt 9\cr \displaystyle{\frac{1}{x+6}}\amp \text{se}\ x \ge 9\end{cases} \end{equation*}

tem uma descontinuidade de salto em \(9\) calculando o limite quando \(x\) se aproxima de 9 pela esquerda e pela direita.

\(\displaystyle{\lim_{x\to 9^-}f(x)} =\)

\(\displaystyle{\lim_{x\to 9^+}f(x)} =\)

Esboce o gráfico de \(f\text{.}\)

Resposta 1.

\(35\)

Resposta 2.

\(0.0666667\)

4.

Dê o(s) intervalo(s) em que a função é contínua.

\begin{equation*} h(k) = \sqrt{5 - k} + \sqrt{k + 8} \end{equation*}
Resposta.

\(\left[-8,5\right]\)

Solução.

O primeiro radical implica que \(5 - k \geq 0 \;\Rightarrow\; k \leq 5\text{.}\) O segundo implica que \(k + 8 \geq 0 \;\Rightarrow\; k \geq -8\text{.}\) Juntas, essas duas restrições fornecem \(-8 \leq k \leq 5\text{.}\)

5.

Determine se \(f\) é contínua nos valores indicados.

\begin{equation*} f(x) = \begin{cases} 1 \amp x = 0 \\ \frac{\sin x}{x} \amp x \neq 0 \end{cases} \end{equation*}

1. \(x = 0\text{.}\)

  • contínua

  • descontínua

2. \(x = -4\pi\text{.}\)

  • contínua

  • descontínua

Solução.

Para \(x = 0\text{,}\) verifique se o limite \(f(0)\text{:}\)

\begin{equation*} \lim_{x \to 0} f(x) = \lim_{x \to 0} \frac{\sin x}{x} = 1 = f(0). \end{equation*}

A função é contínua em \(x = -4\pi\) porque é o quociente de duas funções contínuas e o denominador é diferente de zero.

6.

Dados os intervalos nos quais a função é contínua.

\begin{equation*} f(x) = \sqrt{7 - e^{x}} \end{equation*}
Resposta.

\(\left(-\infty ,1.94591014905531\right]\)

Solução.

Por causa do radical, exigimos\(7 - e^x \geq 0 \; \Rightarrow \; 7 \geq e^x \;\Rightarrow\; \ln 7 \geq x\text{.}\)

7.

Dê o(s) intervalo(s) em que a função é contínua.

\begin{equation*} g(t) = \frac{1}{\sqrt{64 - t^2}} \end{equation*}
Resposta.

\(\left(-8,8\right)\)

Solução.

O radical implica\(64 - t^2 \geq 0 \;\Rightarrow\; -8 \leq t \leq 8\text{,}\) no entanto, excluímos \(t = \pm8\) porque esses valores causariam divisão por zero.

8.

Dizemos que \(f(x)\) tem discontinuidade de salto em \(x=a\) se:

1. \(\displaystyle{ \lim_{x\to a^-}f(x)}\) existe.

2. \(\displaystyle{ \lim_{x\to a^+}f(x)}\) existe.

3. Os limites à esquerda e à direita direita não são iguais.

Seja \(f(x) = \begin{cases} 8 x - 3, \amp \text{se}\ x\lt 9\\ \frac{1}{x+9}, \amp \text{se}\ x\geq 9 \end{cases}\)

Mostre que \(f(x)\) tem uma descontinuidade de salto em \(x=9\) calculando os limites da esquerda e da direita em \(x=9\text{.}\)

\(\displaystyle{ \lim_{x\to 9^-}f(x)}=\)

\(\displaystyle{ \lim_{x\to 9^+}f(x)}=\)

Tente esborçar o gráfico de \(f(x)\text{.}\)

Resposta 1.

\(69\)

Resposta 2.

\(0.0555555555555556\)

9.

Determine os pontos em que a função é descontínua e indique o tipo de descontinuidade: removível, salto, infinito ou nenhum destes.

\(\displaystyle f(x)= \frac {x - 6} {\mid x - 5 \mid}\)

\(x=\)

  1. Escolha o tipo

Resposta.

\(5\)

Solução.

A função \(\displaystyle \frac {x - 6} {\mid x - 5 \mid}\) é descontínua em \(x=5\text{,}\) onde existe uma descontinuidade infinita.

10.

Esboce o gráfico da função \(f\) para determinar o tipo de descontinuidade em cada valor \(x\text{.}\)

\begin{equation*} f(x) = \begin{cases} x^2+2, \amp \text{ se } x \lt -3 \\ -5, \amp \text{ se } x = -3 \\ -5 x+ 2, \amp \text{ se } -3 \lt x \le 0 \\ \displaystyle \frac{-4 x}{(x-3)^2}, \amp \text{ se } 0 \lt x \lt 3 \\ \displaystyle \frac{1}{x^2+1}, \amp \text{ se } 3 \le x \\ \end{cases} \end{equation*}

  • removível

  • salto

  • infinita

1. Que tipo de descontinuidade \(f\) tem em \(x=-3\text{?}\)

  • removível

  • salto

  • infinita

2. Que tipo de descontinuidade \(f\) tem em \(x=0\text{?}\)

  • removível

  • salto

  • infinita

3. Que tipo de descontinuidade \(f\) tem em \(x=3\text{?}\)

11.

Determine se o Teorema do Valor Intermediário implica que a equação \(x^3-3x - 5.9 =0\) tem uma raiz no intervalo \((0,1)\text{.}\)

O Teorema do Valor Intermediário

  • faz

  • não faz

implicar que a equação acima tem uma raiz nesse intervalo.

Solução.

Se \(f(x) = x^3-3x - 5.9\text{.}\) A função \(f\) é contínua no intervalo fechado \([ 0,1]\text{.}\) Temos

\begin{equation*} f(0)= -5.9 \lt 0 \quad \text{and} \quad f(1) = -7.9 \lt 0 \end{equation*}

Uma ves que \(f(1)\lt f(0)\lt 0\text{,}\) o Teorema do Valor Intermediário não implica que exista um número \(c\) em \((0,1)\) tal que \(f(c) = 0\text{,}\) isto é, o teorema não implica que a equação \(x^3-3x - 5.9 =0\) tenha uma raiz no intervalo \((0,1)\text{.}\)

12.

Seja \(f\) contínua em \([4, 12]\text{,}\) em que \(f(4) = 18\) e \(f(12) = 10\text{.}\) Podemos concluir que um valor \(4 \lt c \lt 12\) exista tal que \(f(c) = 1\) ?

  • Não, não há informações suficientes

  • Sim, por causa do teorema do valor intermediário

13.

Considere a função \(f(x) = 3 x^3 + 4 x^2 + 3\text{.}\) Para quais valores de \(k\) o Teorema do Valor Intermediário nos diz que existe um \(c\) no intervalo \([0,1]\) tal que \(f(c) = k\text{?}\)

\(\le k \le\) .

Resposta 1.

\(3\)

Resposta 2.

\(3+4+3\)

Solução.

Observe que se \(c=0\) temos \(f(c) = f(0) = 3\) e se \(c=1\) da mesma forma \(f(c) = f(1) = 3 + 4 + 3 = 10\text{.}\) Assim, como \(f\) é contínua, podemos aplicar o Teorema do Valor Intermediário e dizer que para qualquer \(k\) entre 3 e 10 podemos encontrar um valor \(c\) tal que \(f(c) ) = k\text{.}\) Assim o intervalo é

\begin{equation*} 3 \le k \le 10. \end{equation*}
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